sábado, 30 de abril de 2011

"Fazia frio...

  No corredor do hospital. Mas Felipe não sentia. Ele olhava fixamente todas as pessoas de branco que passavam. Esperando notícias.
  Sua cabeça já não estava mais lá. Ele se recordava de tudo. De como tudo começou..."


Letícia. O brilho de seus dias, nublados, ou não. A primeira vez que ele a ficaria marcado para sempre em sua mente. Ela era linda. Não havia como não notar.
  O brilho castanho dos cabelos. Os olhos verdes. As maçãs do rosto coradas, e  o modo de andar, que fazia o tempo parar.
  Ele se apaixonou à primeira vista.
  No dia seguinte, descobriu que ela estudava em sua escola. Era 1° dia de aula. Ela parecia deslocada. E ele, é claro, fez amizade rapidamente com aquela linda, calma e tranquila garota. Depois de 2 meses, ele criou coragem e a beijou. Ela correspondeu. Era uma tarde de outono, eles estudavam juntos na casa dele.
  Ele pensou que seria fácil agora... Mas no dia seguinte, ela o evitou, alegando pressa, e foi assim, por uma semana.
  Até que ele resolveu ir à casa dela.

  A mãe de Letícia abriu, e apontou para a cozinha, indicando, em um gesto, que ela estava lá.
  Ele entrou cauteloso, e viu que Letícia segurava 3 remédiso nas mãos.
  -Letícia.. o que.. você.. está doente?
  Um pouco agressiva, algo que não era de sua personalidade, ela disse:
  -Saia daqui.
-Eu vim conversar com você, e não saio enquanto isso não acontecer.
  Ela então fechou a porta e disse, antes que ele pudesse falar qualquer coisa:
  -É nelhor você se afastar de mim.
  -Você não me ama, é isso?
  -Não. Não é isso.
  -Mas... o que é, então?
 Ela respirou fundo antes de falar.
 -Felipe. Eu.. tenho leucemia. Eu não posso fazer coisas comuns, como tomar sol, vou para o hospital o tempo todo, e vivo à base de remédios. Eu não sou alguém saudável.
  -Você.. tem leucemia? Eu jamais me afastaria de você por isso.
  -Você tem sonhos. Namorar, casar, ter filgos. Como todo mundo.. Mas eu.. eu sonho em acordar viva no dia seguinte.
  -Eu amo você Letícia. E se você está doente, eu quero estar do seu lado. Para sempre
  -Mas...
  -Sem mas.- ele interrompeu a frase dela, colocando o dedo suavemente sobre seus lábios, e lhe deu um beijo.

  Foram 1 ano e 5 meses de namoro.
  Com ele, Letícia nem parecia estar doente.
  Sorria o tempo todo, saíam, até corriam. Evitavam o sol. Ele a via dormir, à tarde, e acordar sobressaltada com algum pesadelo. E a abraçava, sentindo-a tremer com seu toque.
  Entre momentos felizes, ela passava alguns dias no hospital. Quimioterapis. E ele junto, sempre, segurando suas mãos, e a ajudando quando ela passava mal.

  Até que, um dia, ela teve um sangramento intenso, e e foi internada às pressas, no hospital. Desacordada.
  Era grave.
 
  E agora, ele esperava no corredor, que alguém lhe dissesse que ela ia sobreviver.
  De repente, veio uma enfermeira, que disse:
  -Ela está acordada.
  Ele correu para o quarto. E doeu vê-la daquele jeito. Magra, os cabelos caindo, os braços finíssimos, milhares de tudos presos em seu corpo. Os olhos, com profundas olheiras.
  Sua pele levemente dourada estava pálida. Ela pardecia tão frágil...
  Voltou então seus olhos verdes para ele. E sorriu.
  _Felipe...
  -Não fala, amor. Pode te deixar mais fraca...
  -Eu estou ótima.. - falava, com a voz fraca - Não vejo a hora de sair daqui.
  -Calama amor, logo você sai. Eu prometo que você já fica boa.
  -Obrigada amor.. Por existir. Você... me faz... feliz... muito feliz... Eu te amo.
  -Eu te amo meu anjo! - e a abraçou.
  Mas de repente, sentiu-a desfalecer em seus braços.
  Deseperado, gritou; os médicos vieram, e tantaram reanimá-la.

  Porém, já era tarde. Sua última visão de Letícia foi com uma palidez cadavérica, magreza excessiva, e jogada em uma cama de hospital.
  Seu mundo desabou naquele insante. Como aceitar que ela estava morta? O que seria dele de agora em diante?
 
  E os anos se passaram, sem que nada lhe devolvesse a alegria de viver.
  Mas todas as noites, antes de dormir, ele olhava a foto preferida dela na cabeceira de sua cama... E se lembrava da primeira vez em que a viu.
  E assim, ele tinha a certeza. De que ela seria eterna para ele. Eterna... em seu coração. Em sua memória. Para SEMPRE.



    
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário